quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Que será feito da minha faca do Rambo que tinha quando era pequeno?

Hoje visitou-me um fantasma do passado. Um resquício da infância, uma melodia evocativa de outras manhãs solarengas como a de hoje, uma viagem no tempo, a um tempo com menos preocupações e em que os dias tinham muito mais minutos que os de hoje.
Esta manhã, ouvi aquele ‘chilrear’ inconfundível e inesquecível, que não ouvia há muitos, muitos anos. Aquele pífaro mágico, aquela espécie de flauta hipnotizante, que me fez correr na sua direcção, que é como quem diz, me fez abrir a janela armado em S. Tomé (ver para crer), pois podia ser uma partida do meu cerebelo, ainda meio estremunhado e mal-acordado que estava.
Mas era ele mesmo. Era o amolador de facas. Essa figura histórica, quase mitológica, na sua bicicleta atafulhada, munido da sua gaita inebriante, que a todos anunciava a sua presença.

Esse espectro ambulante, memória de manhãs de sábado, talvez dos inícios dos anos 90, voltou a espalhar o seu encanto. A polifonia daquele fragmento de Música continua igual, a alternância agudo-grave-agudo mantém-se perfeita. Só a imagem do amolador se alterou. Lembrava-o alto e esguio, com o dobro da altura da bicicleta. Hoje encontrei-o atarracado e pouco maior que o dito veículo. Talvez seja o mesmo homem, vergado que está pelo peso da idade, muitas e muitas facas amoladas depois.
Mas foi bom ver que ainda há tradições da velha guarda, que alguns não permitem que caiam no irretornável oblívio. E recordar a infância é sempre tão bom.
Ah, é verdade. O novo aeroporto sempre vai ser em Alcochete. Afinal o deserto do camelo do Mário Lino não é assim tão mau.
Vou amolar uma faca e assobiar melodias de sonho. Até lá.

5 comentários:

M disse...

Isso é que é inspiração! Oblívio irretornável? Espectro ambulante? Très bien!!! :)
Beijinhos

penim disse...

eu cresci numa vila piscatória, e era frequente ouvir passar o amolador pela rua da minha avó. há pouco tempo, ouvi um amolador aqui em lisboa, e viajei automaticamente no espaço e no tempo.

no mesmo dia entrevistei uma mulher cujo toque de telemóvel era o som da espécie de flauta do amolador.

invejei-a. e sorri.

mik@ disse...

quando eras pequeno os teus pais deixavam-te brincar com isso? aih que terrorista em bruto estava ali, ou a faca so era boa pra cortar manteiga...
há tempos também ouvi um amolador de facas :) é engraçado ver como há coisas que ainda resistem no tempo :)

Anónimo disse...

Essa não é a faca do crime??? aquela que cortou os dedos à Leila?? afinal foste tu, meu ganda Ze... loool


abraço Ze das facas

Leila* disse...

dezperado: a faca que cortou os dedos da Leila tinha mais uns dez centimetros do que essa e era bem mais perigosa nas mãos dela acredita!

A faca do Rambo (do ruca) :P nem amolada estava, não podia ter feito um serviço destes :S

Ass: a piegas*