terça-feira, 20 de março de 2012

Correr

Este ano decidi ir fazer a Meia-Maratona de Lisboa, no próximo domingo. Correr nunca foi a minha praia, sempre fui mais de correr atrás de uma bola ou então pedalar por onde o caminho me levasse. Mas desde a leitura de "Nascidos para Correr" (falei dele aqui) que a minha opinião e a minha vontade de correr aumentou bastante. Contudo, não me tornei nenhum Caballo Blanco, e 21 km a correr é algo que ainda não estive perto de fazer, pelo que esta prova seria uma verdadeiro desafio. 
Assim, encetei há várias semanas o treino físico mas não me fiquei por aí. Há também todo um treino de reconhecimento da tarefa em si, que inclui ler artigos sobre o assunto e ter conversas com quem já correu a sério, mas também o visionamento de documentários sobre a maratona em particular e a corrida em geral.
Assim, nos últimos dias vi dois documentários recentes que abordam a temática da corrida, cada um apresentando uma perspectiva diferente, mas que no fim ambos chegam à mesma óbvia conclusão.

O primeiro foi "Running The Sahara" (2007), com a narração e produção de Matt Damon, que segue a aventura de 3 corredores que se prestam a correr o Sahara todo, mais de 7000 km da costa do Senegal ao Mar Vermelho, no Egipto. Tudo isto em apenas 111 dias, sem um único dia de descanso. É um documentário que mais do que explorar a brutalidade física e mental que tal tarefa impõe, se debruça sobre o efeito destas no comportamento das pessoas, as dinâmicas que se vão criando e quebrando ao longo da violência de dias e dias a correr no deserto, com momentos de verdadeiro drama, muitas zangas pelo caminho, várias lesões e desistências iminentes, mas também momentos de comunhão, partilha, genuína alegria e amizade que só uma experiência tão marcante pode proporcionar. Tudo isto seguido muito de perto pelo realizador James Moll (fez recentemente o doc sobre os Foo Fighters, "Back and Forth"), que não se furta a acompanhar os momentos mais frágeis e tensos da corrida, dando uma camada de realismo ao documentário que o coloca num patamar superior a muitos documentários que se fazem sobre desporto ou desportistas. É igualmente hábil na forma como apresenta os choques culturais que vão surgindo pelo caminho (uma criança beduína chocada por ver um caucasiano ou outra que ficava dias a fio sozinha enquanto os pais iam buscar água), tendo ainda espaço para alertar para o problema da escassez de água em África. 

De seguida, atirei-me a "Spirit of the Marathon" (2007), que começa com a premissa de que "correr uma maratona muda a vida de uma pessoa para sempre" e avança para nos dar uma perspectiva histórica e geral do que é a maratona e o os seus 42,125 km, com uma contextualização muito interessante da importância que a prova tem em termos sociais e até políticos. Daí parte para o seu lado mais interessante, o lado das pessoas que a correm. Do atleta africano do top 10 mundial ao sexagenário perseverante, da ex-medalhada olímpica à mãe gorda e divorciada, é-nos apresentada uma série de pessoas que nos contam as suas diferentes motivações e histórias e aquilo que as impeliu a querer bater qualquer obstáculo físico, mental ou social que se lhes pudesse ser colocado e correrem a maratona, até ao fim. A intensidade e drama do esforço durante a prova é captado de uma forma tão fria que chega a ser psicossomático, mas o êxtase e o sentimento connosco partilhado depois da linha da meta é algo de vibrante.

Sejam 7000 km no Sahara ou 42 km em Chicago, aquilo que atravessa ambos os docs e aquilo que no fim é celebrado é o poder da simbiose entre corpo e mente, capazes de produzirem uma força de vontade e uma capacidade de sacrifício tamanhas que não existem obstáculos inultrapassáveis. São dois documentários que contam duas histórias verdadeiramente inspiradoras e não se limitam a dar-nos imagens com lugares comuns em voz-off. 
Em breve, procederei ao visionamento de mais docs, "Run For Your Life" e "Ultramarathon Man: 50 Marathons, 50 States, 50 Days", ainda que tanta preparação física e documental vá acabar por ser em vão, uma vez que como bom português deixei esgotar as inscrições para a Meia-Maratona (azar do cacete, primeira vez em 22 anos que esgotam!) e agora só poderei correr a Mini-Maratona de 8 km. Enfim... 

2 comentários:

Leila* disse...

Devias era ter feito inscrição a horas :p foste de mini. mini-maratona leia-se. :P

Ruca! disse...

fui de mini mas fui. a dra. ficou a dormir. bah :)**