segunda-feira, 5 de novembro de 2007
Do outro lado do rio
Tive desde sexta-feira à tarde até domingo à noite, quatro filmes para ver, imposições da minha função no European Film Festival. Mas como sou calão, não vi nenhum nem na sexta nem no sábado, o que me deixou com os 4 para ver num dia.
Curiosamente, quatro filmes portugueses, de realizadores mais ou menos consagrados, se é que há lugar e espaço para consagrações na minúscula indústria cinematográfica portuguesa. Todas obras recentes (dois estrearam em Outubro) e todos eles dignos, mais que não seja, de um louvor. De quando em vez lá tenho de engolir uns sapos e admitir que o cinema português consegue ter os seus momentos. Fugazes porém, mas todavia, momentos.
Mas, afortunadamente, ainda há filmes feitos aqui no burgo que conseguem mais do que isso. E é aí que entra “A Outra Margem”, última longa-metragem de Luís Filipe Rocha, realizador de “Adeus, Pai” ou “Camarate”.
E senti algo que não sinto muitas vezes, algo que pelo menos no “Lost In Translation” lembra-me perfeitamente de acontecer. (Ainda que com as devidas distâncias; o filme da Sofia Coppola é, a meu ver, um filme gigante. E não é por ter a Scarlett. Ou não é só por isso...) É uma sensação de quase-medo, quase-tristeza por não querer que o filme chegue ao fim. Porque a história e principalmente as personagens agarram-nos, não do jeito que o faz um bom ‘thriller’ ou um mistério do Poirot (Mas quem é que afinal matou o Barão Strogonoff na casa de banho da mansão? Vais dizer-nos ou não, Hercule?). Não. É diferente. É que é um filme tão tremendamente humano que faz confusão, pois as emoções, dentro e fora do ecrã, estão à flor da pele o filme todo. É a vida real atirada à cara não pelo telejornal mas pela enganadora “fábrica de sonhos”, o cinema. Mas com luvas de cetim...
A história coloca em conflito as noções estabelecidas do que é ser “normal” e “diferente” numa sociedade moralista e preconceituosa, que é a nossa, está claro. Através dos olhos de um travesti e de um rapaz com trissomia 21, temos direito a dois pontos de vista distintos do que é estar do outro lado do rio. O lado da diferença, da exclusão. E como o rio que separa as suas margens, metáfora tão bem explorada no filme, pode deixar de ser obstáculo se nos dermos ao trabalho de construir pontes que o atravessem.
E depois os actores. Três excelentes interpretações. Não só Filipe Duarte e Tomás Almeida (a diferença faz a diferença), já distinguidos ex-aequo com o prémio de Melhor Actor no Festival de Montreal no Canadá, mas também Maria D’Aires, a mãe do maravilhoso Vasco.
E a fotografia de Edgar Moura não é nada de deitar fora. Nada mesmo.
O filme está nos cinemas um pouco por todo o país e acho que merece ser visto. Se alguém resolver ir na sexta-feira, dia 9, à projecção incluída na programação do European Film Festival, a gente vê-se por lá.
Fica aqui uma amostra do que se pode esperar:
Ah, os outros filmes eram o “O Julgamento” de Leonel Vieira, “O Mistério da Estrada de Sintra” de Jorge Paixão da Costa e “20,13” de Joaquim Leitão.
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4 comentários:
Eu quero ir berieeee! Acho que deve ser uma boa produção nacional ;) E a contar com a tua critica (e legendagem) melhor ainda!!
Beijinhos
Puto se na sexta tirar ferias (propositadamente para na kinta ir ver Boys Noize ao Lux), entao vou ver esse filme á tarde la para os lados de Cascais. nao é?
sempre quero ver se sabes legendar filmes... ahahah
Hasta
já tinha visto essa reportagem no 'cartaz', e desde logo que pus esse filme na minha lista de filmes a ver.
acho ridículo como é que a comunicação social dá tanta importância a um filme como o 'corrupção' e tão pouca a este 'a outra margem'.
compreendo a mediatização (se não o fizesse, não teria emprego, lol) mas tanto tempo de antena nos telejornais e afins rouba público aos filmes que - a meu ver - realmente interessam.
gostei muito do teu blog, vou adicionar aos meus favoritos.
um abraço!
obrigada pelo teu elogio e pela tua visita :) retribuindo o gesto, deixei um desafio para ti no meu blog, portanto deixa-te lá de "fitas" e sê parvo em 5 frases! (estes meus trocadilhos são influências do Nim, peço desculpa)
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